23 de fev. de 2010

Barbarismo pantagruélico



Eu faço
O fio da faca
A lata fria na goela
A bela morte
E singela maestria da degola
A cabeça no prato
Mas o intacto intelecto
A mente que não esfria
Fica a insistir no deleite
De um banquete
Com idéias em orgia.



Por A. SchArr

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21 de fev. de 2010

CONTINA E SERPENFETE

(segunda parte)


Antes que a chuva aperte e esqueçamos o suor do carnaval segue a série sobre o carnaval poético da fronteira.
O Festival de Músicas para o Carnaval a partir da década passada ganhou uma nova nomeclatura, com o nome do poeta Apparicio Silva Rillo. Um dos criadores do grupo Os Angueras e do Festival da Barranca sempre teve seu nome ligado intimamente ao tradicionalismo, mas foi as suas letras nos carnavais que se percebeu a abrangência da poesia de Rillo.

Poesia que também é sentida no samba “Dia-a-dia” de Eugênio Dutra que em 1983 com o grupo Pixinguinha concorreu com a transcrição do carnaval...vou esquecer do salário e do patrão. Vale destacar a citação à Maria do Carmo, mais uma santa popular que é freqüentemente encontrada nas cidades gaúchas.







Dia-a-dia
(Eugênio Dutra – 1983)

Vivo que vivo na avenida
Faço o que faço no cansaço
Digo e diz digo, muitas coisas
Mas sem o samba eu não faço

Quero ficar contigo agora
Na batucada e no compasso
Quero dizer-te muitas coisas
E cantar no teu abraço

Fui na escola e aprendi...senti
Que o samba é no pé...pois é
Maria negra só sabia
De batucada e candomblé

Todo janeiro tem verão...verão
Maria do Carmo tem sambão...tem sambão
Eu hoje vou brincar a noite inteira
Vou esquecer do salário e do patrão.



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20 de fev. de 2010

Diálogo autopsiCÓRgrafado


Ah Pessoa, eu sei...
Mesmo assim preciso
de um sincero abraço...
Esse comboio de corda
Não é feito de cordas de aço


Por Pagouche (uma Ilustre)
.
.
.
mas este é:
    Cordas de aço - Cartola  by  insolitotrio 
Na madrugada iremos pra casa
Cantando...


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16 de fev. de 2010

CONTINA E SERPENFETE

Acompanhando a ressaca da finaleira do carnaval, assim como o confete sendo varrido pela limpeza, os Insólitos também querem pintar o nariz e ser feliz!

Todo mundo tem uma história de carnaval para contar, alguma experiência que remonta algum fevereiro e a folia. E é impossível lembrar do carnaval e não pensar em música, e foi através da música que comecei a compreender o carnaval e sua poesia.
Foi na fronteira-oeste do Estado, no quintal da minha casa ou na casa de amigos da família que ouvia maestros ensaiando instrumentos de sopros, poetas rabiscando as melhores palavras e instrumentistas esticando o couro para a batucada.

Há quarenta e três anos São Borja realiza o Festival Regional de Músicas para o Carnaval Apparício Silva Rillo, uma tradição que contradiz o Tradicionalismo e a sua instituição criada que abafou outras expressões culturais no Rio Grande do Sul.
Na beira do rio Uruguai são escolhidos as melhores músicas nas categorias Samba e Marcha, gêneros musicais que o festival manteve apesar da onda do pagode e pela “extinção” da marcha de carnaval.

Abro uma série nesse insólito blog trazendo um pouco da produção significativa vinda da fronteira com confete, poesia e boa música. Privilegiando, como de praxe nesse espaço virtual, a palavra e a diversidade.

O samba como legítimo ritmo brasileiro sempre teve em suas letras uma inspiração no cotidiano, característica que se formou através das mãos de Noel Rosa e Ismael Silva. E é desse cotidiano que vem a inspiração para o samba “Dia-a-dia” de Clemar Dias e Júlio Cruz que foi defendido pelo Grupo Pixinguinha em 1983, e se tornou uma das grandes músicas do festival.
Leia e escute!


Realização
(Clemar Dias e Julio Cruz )

Sempre foi seu maior sonho
Sofri pra realizar
Com salário de operário
Comprei todo esse vestuário
Pus você pra desfilar

Ela é mulher bonita
Transformada em esplendor.
Esse pobre diarista
Disfarçado de sambista
A espera do seu amor.

Sorria, meu amor
É seu momento
Existe um mundo novo a lhe esperar.
Pois saiba
Que ao pisar na passarela
Seu sonho de Cinderela
Irá se concretizar

Na passarela, meu amor, sorria
Que o seu sonho lindo
Virou poesia.


Grupo Pixinguinha-Realização  by  reticencias


Por Guilherme Cruz

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15 de fev. de 2010

Morte intermitente



O meu céu tem estrelas
que estão
sem star
...


Por A.SchArr

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9 de fev. de 2010

Verão contínuo de Ser


Serão sermões
Ou senões do “sim”?
Senhores parados
De todos os lados
Ainda sonhadores.

Será o meu fim?
Será serões?
De trabalho caro
Que indica um início qualquer.

Anões que sóis
Invade coitos por aí.
Nada sabes que o gozo de amar
Não está nem em falos,
Nem em falácias.

Serão senões
Ou sermões do “não”?
Concreto fato
Que apesar dos badalos
Ficou parado em ti.

Eis o fim.
Foram os sermões
E serões que arrumaram
O será de cada dia.

De nos os serões
E o findar
Dos próximos verões. 


Por Guilherme Cruz

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7 de fev. de 2010

Roteiro - a primeira, para o fim das "Tentativas Poéticas"

Definitivamente fechando a (pseudo)série "Tentativas Poéticas", tirei do fundo do baú a primeira do ciclo. Já não tenho certeza da época, mas foi rabiscada entre 2004 e 2006, numa fase fervorosa de "eu quero ser Castro Alves!". O pior é que tenho um carinho por esses versos, embora juntando tudo não valha mais que 2 pilas (se bem que nesses dias de calor já dá um picolé). Sem mais delongas aí está. Depois dessas linhas, os próximos posts trarão as "Tentativas Patéticas" (para alegria geral, bem menos pretensiosas e bem mais debochadas). Au revoir!



Roteiro


Injustiça de homens hipócritas
De um mundo omisso e sem memória
De séculos de sangue para se fazer glória
Com repetidas histórias de lúcidas loucuras
De velhos erros
Forjados em mentiras puras.
Destinos incertos traçados na certeza de um passado
Que é sempre presente
De medo constante, latente
Do sofrimento por costume
E mórbida esperança como alimento,
Enganando a morte e dando sustento
Na trajetória em direção ao fim
No acalento das luta diária.
Vida se perde pelo caminho...


Novo cenário, novos personagens
Mas o epílogo é sempre o mesmo
Quer sórdido autor
Repugnante!
Como quem manipula coadjuvantes
Atalhando vidas sem piedade alguma,
Estupidamente... Uma a uma
Cumpre seu papel.
Já acostumado com a crueldade
Apenas fazendo uma vontade
Da falta de escrúpulos e da vaidade
Daquele que não se importa
Se a felicidade jaz
Morta
Se sucumbem sonhos e futuro
Se há atrás de altos muros
Almas cansadas do atroz dia-a-dia
Inertes na companheira agonia
De uma guerra sem vencedor
Apenas com heranças de ódio
Os escombros e a dor


Cicatrizes da batalha
Navalha que fere a alma
E dilacera o futuro
Transforma luz do túnel
Em escuro!
Eis o legado...
Vê a lágrima no olhar do soldado?
Ele morre um pouco com aquele que mata
Diminuindo tempo, vida, sonhos...
Fica nada
Apenas mais uma página
Destinada a ser em breve esquecida
Corroída pelo banal da própria vida.


Por A. SchArr (e perder e reencontrar)


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3 de fev. de 2010

A patética cena do pós beijo

Ou
Um trio que se faz de dois

A desgraça que você fala se cala pelo seu caráter.
Muito mais que amor a irrelevância se comunica com outros umbigos. Além do seu, é claro.
Eu minto pelo fato de você acreditar, é assim que a vida me julga... pelas verdades que tu condena e pelas injúrias que me escapam.

É assim que se resolve um amor, meu amor...
Foi assim...com as vergonhas a mostra que se volta a porta dos dizeres quaisquer.

Encho a mala de orgulhos, de indignações e tudo mais que você cuspiu nas quatro paredes do banheiro escuro.
Luz, sombra e tudo mais que você pintava no rosto subjulgava os interesses meus.

Você bradou pelo fim chorando pelo aconchego de uma abandonada pelos seus.
Mas eu falo internamente...
Pois as tuas tentativas de repúdio abrangem um discurso estúpido de se auto anular – e eu sigo amando pateticamente.
Mesmo assim Vai...

 

“Vai, vai mesmo...”

 

Por Guilherme Cruz


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