16 de nov. de 2010

suspirarinfância

um poema para crianças (ou não)



Eis que o ônibus me espera
Me espera o taxi, o trânsito

Me espera a cadeira, o computador, o trabalho
O curso, a aula, o professor, a colega
A lingüística-aplicada-ao-ensino-de-todas-as-línguas
O pão-de-queijo, o intervalo, o telefone, a foto-cópia, a geladeira, a [escada]

A meia-noite, o jantar, a madrugada
O e-mail principal, o e-mail institucional, o e-mail anárquico, o e-mail [secreto, o e-mail escondido, o e-mail popular e o e-mail da senha esquecida]

Me esperam todos os livros da prateleira, a conta do banco, a conta [de luz]
Me esperam os filmes, os meus, os emprestados e os da locadora

Me esperam os artigos, o professor pesquisador, a torcida de futebol, [as amigas de infância, os cafés da tarde, o cabeleireiro, a professora de inglês abandonada, o curso de violão mal-iniciado, a pele]
A fala!

Os CDs, os documentários, os projetos, as idéias, os SONHOS

Me esperam

respirar

Porque o que eu espero já terminou (no mar)
dessa vida
Vou pingar no céu, de saudade.



Por Gal.

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EU!


Eu que tanto corro, 
quero atravessar o tempo sem pressa.

Eu que acredito na liberdade,
desejo proibir tantas coisas.

Eu que vivo um porre sem embriaguez,
confuso numa lucidez insana,
que cobra de mim
o que não me foi ensinado.

Eu que tenho um corpo
e um espírito,
que caminham em pleno descompasso.

Eu que suporto uma consciência ingrata,
que me sonega direitos
e aponta deveres sem cessar.

Mas eu, que tenho um espírito traquino,
que me incita à rebeldia,
travessamente escondi dentro do peito,
o meu direito de amar!

Eu?


Por Armando de Arruda, um Ilustre ilustríssimo!
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1 de nov. de 2010

NOITES GUARDADAS



Nessa última noite tive a oportunidade de conhecer elefantes suaves, leves e delicados por natureza. Os seus roncos eram mais graves que o normal, as suas trombas eram limpas e afinadas. E eles cantavam e andavam sonoramente por entre carros, carroças e totalmente desamparados por aquela última noite.

Mas, como bons elefantes sempre andavam em bandos, com um andar lento e sem objetivo. Na realidade a única coisa que me lembrava de que eram elefantes, eram as pegadas, aquelas profundezas que se abriam na terra quando eles passavam. Se fossem touros eu chamaria de covas, mas, já que são elefantes, não passam simplesmente de buracos para um controle sanitário.

Nessa última noite pude retornar em várias manhãs, pois a cada passo alarmado do elefante-guia eu me rendia aos pensamentos que já não são tão meus. No som lúdico que ouvia eu afirmava que todos os defeitos estavam armados para qualquer chance de amor. Eu não queria me render, mas a cada pisada de meus amigos elefantes eu me despia e ficava indefeso. O segredo que eu guardei nas enormes orelhas do acinzentado mamífero era de um dia poder indagar verdades que nem sei se existem... Ou é só mesmo medo – o pressentimento de um “tempo ansiado de se ter felicidade” (se é felicidade que tu buscas).

Estou me sentido dentro dessa fila, naquela simbologia de uma fila indiana protegido pelos mais fortes. Aqui, entre a tromba de um e o rabo do outro estou isolado. Nessa última noite pude fechar os olhos para ter a ti, ao som único de algumas elefantas, doces e tão anedóticas com confetes, que quando passavam pintavam o seu nome em mim.

No desfecho dessa última noite espero ser surpreendido com alguma mensagem que me faça levantar no outro mês. A noite última dessa semana passa por mim como aqueles elefantes sonoros e mudos aguardando a próxima manhã, aguardando o teu veredicto.

O tempo é o guardião dessa noite e por ser a última se despede...mas o que dizer daquele pobre elefante que resolveu sair da trilha, e seguir na estrada sozinho?

Por Guilherme Cruz


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