Imagem: Egon Schiele, The Family (1918)
Os bêbados de Bariloche eram tão iguais a nós que cheguei a pensar que estava lá quando estava aqui. Não sei se foi o álcool, não sei se foi o sorriso-aliviado, mas o mundo agiu estranho e deu voltas para trás. Nós estávamos lá. Exatamente onde sempre estivemos aquelas tantas e tantas vezes. E aquele alguém mudou o cabelo, aquele outro mudou a casa, o espetáculo mudou o cenário e você mudou de par. Mas o cheiro do mundo continua o mesmo. E o cachorro sente frio e o bêbado sente a esperança de esquecê-lo em um cigarro. E os alguéns acham que o cachorro precisa de uma casa. E o fumante acha que dará esmola para o bêbado quando lhe estende um maçinho branco. E eu acho que o razoável é não fazer nada. Só beber a futilidade. Enrolada em um casulo de penas-e-pêlos esperando ver de quem foi a vez de morrer de frio. Rejeitando as carnes e desejando os carros. Que passam e passam como luzes quentes e lindas, misturando o vermelho e o amarelo como o cheiro do vinho e da cerveja que habitam em mim. Se quando eu deitar rolar o mundo, que ele avance ao diferente. Ou, pelo menos, me leve para outro lugar.
(Fealdade)
