26 de ago. de 2010

Bonito seria se fosse verdadeiro



Adentro as raízes cuneiformes das veias e líquidos anônimos, pelo passar da manhã percebo o descanso da noite passada que tu chegaste quente e logo foi se esfriando. Claro que não comento porque as insinuações te deixam nervosa, ríspida e lindamente adocicada... Mesmo que a pele de pêssego que tu constrói toda noite, com aquele creme que tu roubou da tua vó e faz você dançar com rodopios manuais por horas estará colado a mim pela aspereza da ânsia se espalhe pelo lençol, teremos um dia tranqüilo de tu me encarando de olhos fechados.

Os teus momentos sonolentos são sempre levantes instantâneos de repúdio e felicidade dentro de mim, pois cresço, crio, não me locomovo por estar paralisado longitudinalmente e com os pareceres na mão procurando por ti. Então se rasga da maneira mais bruta possível, corrigindo defeitos, destruindo perfeições e encorajando a descrição do segundo já vivido.
Dessa maneira as membranas do atrito perdem arrepios e ganham encaixes por entre as vergonhas, um suave apertar que me estrangula pelos rios que passam e deixam arrasadas as encostas de sangue. A boca expõe o dialeto de um mundo novo que só se expande, que assim quando se destrói um império se liberta seus escravos com aríetes empurrados em meio a libertinagem dos nossos sentimentos presos pelo cotidiano.

Finalmente me livro disso, como ao fim dos doze trabalhos de Hércules, me canso das sevícias e cortes que tu segue a se alimentar pelas profundezas. Não perdoo os dentes nem os toques, e ofegante observo entre o látex e a mulher que saiu de dentro de mim o último gesto de felicidade contida.


guilherme cruz. 

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