Chegou do trabalho mais cedo
Pendurou no cabide o casaco e o medo
do assalto, do tiro, do soco, da epidemia
Da solidão, do salto do tempo que o cabelo já denuncia
Desabotoou a camisa, tirou os sapatos
E na cama vazia deu-se conta dos fatos
Da ausência de companhia pra dividir os trapos
Da decadência do dia-a-dia, da sua falta de trato
Acendeu um cigarro pra aliviar o stress
Bebeu a cerveja como se fizesse uma prece
Pra Cristo, Alá, Javé, Buda
Ou qualquer outro santo que lhe acuda
Ligou a TV
Noticiário
Economia, política, futebol...
e o povo sempre otário
CPI em Brasília, gol do Romário
vida em Marte...
Qualquer conto do vigário
Hoje alguém ganhou na loteria
Sua sorte bem podia ser aquela...
- Boa noite!
Começou a novela.
Por Amanda SchArr
