10 de out. de 2009

Isto não é um diálogo




Ilustração de Aristides H. Ares


PERSONAGEM Asterisco (*):
Vocês sabe me dizer o que é arte?

PERSONAGEM Sustenido (#):
O questionamento sobre o que é arte é estritamente contemporâneo. O motivo pode ser justificado por duas vias argumentativas: uma, porque a arte estava muito bem delimitada, e outra, porque a sociedade não parou para fazer este questionamento.

PERSONAGEM Diapasão (v):
Ficamos com a primeira, dado que desde Platão e Aristóteles a filosofia discute a arte...

Asterisco (*):
Então, acontece que a arte não está mais delimitada? É isso? E desde quando?

Diapasão (v):
Desde o século XX. E quem quiser saber mais que pergunte ao Hegel...

Asterisco (*):
Eu não! Você olhou a foto do link? Cara de poucos amigos...

Sustenido (#) mostrando leve irritação no rosto devido a uma veia azul latejante logo abaixo do olho esquerdo:
Acontece que O MODERNISMO mudou a história e o conceito de arte. Duchamp mijou pela última vez no urinol, levou-o ao museu e disse que é arte. E é arte, porque a arte é conceitual. Não é o cachimbo, entende, é a IDÉIA do cachimbo, o conceito, meus caros!

(*):
Não seria o contexto?

(v):
Contexto? Ah, quem falou em contexto é o Nelson...

(*) interrompe a fala do (v):
Rodrigues?

(#) rindo muito. Nota-se que a veia antes latente acalma-se em compasso lento até cessar:
Esse disse que elas gostam de apanhar! Vai ver foi o Gonçalves...

(*) sério
Esse previu a volta do boêmio!

(v):
Goodman porra! Foi o Goodman que falou de contexto. Aliás essa pergunta pra ele é uma babaquice, entende? - “O que é arte”? Goodman a reformula e nos coloca em outro patamar. Para ele deveríamos é estar nos perguntando “Quando há arte?”.

Asterisco (*):
E quando há arte?

Diapasão (v):
Depende do contexto.

Sustenido (#) se dirige ao Asterisco (*) e pergunta:
A volta do Boêmio pra ti é arte?

Asterisco (*) responde desconfiado:
É... E Elas gostam de apanhar é arte pra ti?

(#):
Com certeza!

(v):
Viu, e quem disse isso foi o Danto.

(*):
Disse o quê?

(v):
Que para um objeto ser qualificado como arte, ele deverá ser interpretado.

(*) feliz:
Então, se a pergunta “o que é arte” não tem resposta, vou de Goodman e vou reformulá-la. Para vocês, quando há arte?

(#) irritado e com a veia voltando a latejar:
Com certeza não é quando fazem um texto em forma de diálogo e dizem que é uma reportagem sobre arte!

(v):
Se o que importa é a idéia de reportagem, a forma é o conteúdo e o conteúdo é a forma.

PERSONAGEM Sustenido (#) sofre uma parada cardíaca e é levado ao hospital. Na sala de espera o PERSONAGEM Asterisco(*) escuta “E os outros que se danem” no seu MP3 enquanto o PERSONAGEM Diapasão (v) lê “Estética Doméstica”.


Por Fernanda da Costa e Guilherme Cruz



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1 comentários:

Laura Nobre disse...

Amei esse blog!Não só pelo fato de que um integrante do trio mora no meu coração, mas porque sei que se duas outras pessoas juntaram-se à ele é porque tem na alma alguma pararecência com o Gui, que é especial demais, portanto, especiais pra mim também.Beijos para todos, textos lindos,beijos de uma visitadora que será frequente.