O atabaque é um instrumento de percussão, muito utilizado em rodas de capoeiras e em centros de candomblé. É considerado sagrado e já está inserido na música brasileira pela influência africana. Inserção que se afirmou no disco Afro-Sambas (1966), concebido por Vinícius de Moraes e Baden Powel. O álbum trouxe na raiz negra a voz brasileira que não tinha espaço na MPB.
Depois desse
disco ninguém (ou quase ninguém) tinha conseguido traduzir a sonoridade
africana com mãos brasileiras. Mas, o couro esticado do atabaque afinou-se com
a miscigenação brasileira, pois foi só com um compositor – de sobrenome que mais
parece italiano – que atualmente encontrou a sua melhor sonoridade. Kiko
Dinucci e o Bando Afromacarrônico mostram o seu primeiro trabalho com o
lançamento do Pastiche Nagô (2008).

Guardando as
proporções conceituais, que o Afro-Samba e Pastiche Nagô exigem, temos no último
a volta de bongôs, afoxés, agogôs e do atabaque. O CD traz nas letras toda a
reconstituição de dialetos e expressões de diferentes regiões da África (Rainha das Cabeças), um trabalho que
foi reconhecido pela crítica como um dos grandes lançamentos do ano de 2008.
O disco com dez
faixas faz uma reconstituição das rodas de jongo em Roda de Sampa, onde se vê a influência paulista de Adoniram
Barbosa. O mesmo acontece na música um Samba
Manco, que relata com humor as desventuras de um bamba para continuar
sambando mesmo com o pé machucado. Nessa faixa é interessante observar (ouvir!)
a marcação no contra-tempo do surdo, pois como o samba sugere, busca um
andamento manco. E vale também destacar a faixa instrumental Mosquitinho de Velório.
O Bando
Afromacarrônico é formado por Rafael y Castro (bateria), Julio
Cesar (percussão), Railídia (voz), Dulce Monteiro (voz) e Douglas
Germano (voz e cavaco), além do
multi-artista Kiko Dinucci, que na banda assume voz e violão. Ele divide o
tempo musical também com as artes plástica,
com a dramaturgia, e com a sua última produção: o documentário poético Dança das Cabaças – Exu no Brasil,
onde a influência das religiões negras se dá por completo ao analisar o orixá Exu.
“laroiê”
Guilherme Cruz
