A roda de amigos fugia por si.
Um trajando sandálias e com os calcanhares à mostra, e outro com palavras cheirando manhã. As mulheres da mesa se diziam as mesmas, mas uma era calafrio e suor e a outra era elemento perdido pelas mãos.
Aquela que tocava o frio não olhava para os lados, nem encarava o garçom. Ela olhava o telefone e se desculpava com as sobrancelhas. O rapaz ao seu lado, percebendo o instante de reflexões descobre os desagrados da moça. Ela não compreendera como pode deixar de gostar do passado e de repreender o futuro. Que ali estavam representados pela foto do último amor do rapaz.
O rapaz com os calcanhares sangrando levanta a sua justificativa com os pés e mãos firmes pelo balanço de sua bebida. O distúrbio já está feito, a confusão está abraçada com a serenidade. Vale constar que na última noite a mulher de mãos abertas soube fatiar as camadas de felicidade e se redimir com doações ao seu parceiro, que mesmo encurralado em suas pernas não soube ser pulsão e apontou com o dedo o canal fechado pelos pecados e pudores.
Assim estão todos. Perdidos em pudores lúcidos e pecados católicos. Como se o que valesse fosse a culpa!
O garçom retorna com os pedidos.
A dose foi pequena para quem precisava encarar mais horas de conversa e fatos. Um desperdício de tempo, pois todos queriam a realidade simples e criadora de problemas. Mesa e copos estão atirados e ninguém mais recupera a sobriedade.
Depois...em cada cama...ninguém sonhará com as mensagens lidas, as mentiras forçadas e o espanto fingido.
Eles continuam gostando de mentir com verdades.
Por Guilherme Cruz